Confissão maternal

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Qualquer adulto que lide prazenteiramente com crianças sabe que estas pensam que os seus progenitores são omniscientes e daí a quantidade infindável de “porquê isto, porquê aquilo”. Ora qualquer pai e mãe não precisa de o ser para saber que de omnisciente pouco temos. Daí a minha sensação de “fracasso”, às vezes de burrice mesmo, quando a minha resposta é “não sei”. O problema é que fico mesmo a matutar naquilo e a pensar com os meus botões que deveria ter estado mais atenta a certas aulas de Ciências Naturais e até de Físico-Química.

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O mistério adensava-se à medida que o tempo voava e nem sinal dos dois grandes amigos, do Zezinho e do Ricardinho. Nem os panfletos espalhados pelas aldeias vizinhas com as suas fotos e informação pessoal nem os apelos feitos do altar abaixo pelo Padre Benjamim deram quaisquer frutos. As buscas efectuadas pela polícia local foram inconclusivas, visto os rapazes terem desaparecido sem deixar rasto. O que quer que lhes tivesse acontecido iria para sempre ficar no segredo dos deuses e quaisquer suspeitas seriam puras especulações.

Pois assim pensavam as gentes da aldeia. Isto porque havia uma pessoa que sabia muito bem o que lhes tinha acontecido, para onde é que eles tinham ido, como foram e onde estavam naquele preciso momento. Na verdade, a padeira da aldeia era a única que tinha conhecimento dos planos dos dois mafarricos. Era na sua padaria, ao final da tarde, que por vezes os dois rapazes divagavam, versejavam, sonhavam e planeavam o seu futuro. Ora, esta senhora, Dª Antónia de sua graça, já entradota, mas muito vivaça, tinha um olho de lince e nada escapava aos seus ouvidos. Não se intrometia em assuntos de terceiros, mas retinha tudo o que lhe era permitido ouvir. E não foi preciso voltar muito atrás no tempo para juntar as peças todas do puzzle no que àqueles rapazes dizia respeito: eles estavam saturados das suas rotinas e ansiavam por aventuras, qualquer tipo de aventuras, qualquer coisa que os obrigasse a sair daquela aldeia decrepita e cheia de gente velha em idade e mentalidade. Desde sempre leitora acérrima de enredos policiais e detectivescos, foi quem os tinha ajudado a planear a grande fuga, a elaborar um plano tão perfeito que só com a sua ajuda explícita é que alguém seria capaz de deslindar todo este mistério. E só por um deslize de língua, cometido no confessionário, é que se descobriu a parceria.

A Dª Antónia descobriu igualmente que afinal o tal segredo da confissão, apregoado pelos crentes católicos, é um segredo exactamente igual a todos os outros: corre a sete ventos quando menos se convém.

O que terá sido?

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Eu fiz-lhe uma proposta. Ele, delicadamente, recusou: não estava com vontade naquele momento. E eu senti-me desapontada. Mas a vida é mesmo assim: as pessoas não nascem para me fazer as vontades (isto diz-me o mais-que-tudo amiúde). Não desistirei! E deixo aqui o aviso: há-de acontecer mais vezes 😛

A primeira história

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Hoje contaram-me uma história. Pela primeira vez. Não interessa que história me foi contada, mas sim como me foi contada. Não interessa quando ocorreu a história, mas sim quem a contou: teve “era uma vez…”, o meio, e o “vitória, vitória, acabou-se a história”, princípio, meio e fim. Teve entoação e gestos a acompanhar, e continha diálogo entre as personagens, que tinham nomes. E pediram-me para a escrever no papel, com letra de gente grande. E que a levasse para a escola para ser mostrada.

E eu sempre com um brilhozinho nos olhos…