Há filmes que me passam totalmente ao lado quando estreiam no circuito comercial. Frida foi um deles. Um filme de 2002 que só ontem visionei pele primeira vez. Confesso a minha total ignorância, até ontem, acerca de quem foi Frida Kahlo. O nome era-me familiar, mas não conseguiria subitamente associá-lo a uma artista plástica. Até ontem…
Do primeiro minuto ao último, os meus olhos colaram-se ao ecrã, a observar a miúda rebelde, atrevida, ousada que fazia uns desenhos diferentes, que já sabia muito acerca do sexo oposto, e que se foi transformando numa mulher-artista cujo talento inato teimava em manter “dentro de portas”, acessível apenas aos mais chegados e àquele que viria a tornar-se o seu melhor amigo, companheiro de luta política e mais tarde, seu marido, bastante mulherengo e demasiadas vezes infiel, também ele artista com nome reconhecido na praça, comunista e revolucionário. Mulher despudorada, aventureira, sem medo de julgamentos alheios relativamente aos seus actos públicos e privados mais obscenos, com uma força interior tremenda, mesmo quando a desgraça lhe bateu à porta, o que aconteceu desde muito cedo, e por diversas vezes. Figura feminina admirável, nunca se deixou levar pelo que esperavam dela, e sim pelo que a sua vontade ditava, sempre disposta a enfrentar desafios, inclusivé longe das suas origens mexicanas, e ainda com garra suficiente para voltar a casa e re-construir o seu mundo e acolher no seu lar um exilado russo com quem se vem a envolver. Faltaram-lhe as forças, as físicas, mas nunca a força interior. O seu espólio terminou com a sua cremação.
Para rever…